HUMANIZAÇÃO DA HABITAÇÃO SOCIAL
O resgate da identidade é uma questão importante para o grupo, não apenas na escala urbana, no que tange a identidade do bairro e do coletivo, mas também na escala do indivíduo, de quem irá morar nas habitações propostas e como se dará sua vivência nesse espaço. Assim, buscamos alguns referenciais teóricos que pudessem nos auxiliar na escolha da tipologia e na sua implantação.
Analisamos a pesquisa feita pelas arquitetas Raquel Barros e Sílvia Pina, que buscaram elaborar, através do estudo de conjuntos existentes, uma estratégia metodológica de projeto sustentável, que visa à melhoria da qualidade da habitação social com relação ao pleno atendimento de necessidades sociais e psicológicas dos futuros usuários.
Este estudo aponta para diretrizes muito semelhantes àquelas já discutidas pelo grupo durante a etapa de gramática da forma, assim ele veio apenas a reforçar as nossas decisões projetuais e sintetizar de forma mais clara aquilo que estávamos propondo para os blocos habitacionais, bem como acrescentar novos aspectos e pontos a serem estudados.
Os desafios identificados para o projeto de habitação social e os diversos conceitos considerados relevantes foram categorizados pelas autoras em duas escalas - senso de urbanidade e de habitabilidade - cada uma delas abrangendo três desafios principais e focando ora mais diretamente no arranjo territorial, ora na escala da edificação.
O Senso de Urbanidade
I) Sensibilidade ao Ambiente Construído e Natural Existente
Os conjuntos que são organizados espacialmente de maneiras diversas costumam atender melhor às especificidades dos elementos naturais e construídos do terreno e entorno. Eles devem buscar preservar e acentuar as qualidades existentes, tais como vista, vegetação, insolação e topografia. Podem também criar interfaces permeáveis entre edificações e entorno, entrelaçando caminhos a ambientes de transição ao longo dos limites.
II) Conectividade, Legibilidade e Sustentabilidade Social
Propor desenho urbano que estrutura e estabelece hierarquia entre espaços coletivos abertos do conjunto e também entre estes e o sistema maior de espaços coletivos do tecido urbano. Manter conexão dentro-fora e legibilidade proporcionada através de fronteiras permeáveis. A vivacidade urbana é incentivada por diversidade de usos na vizinhança e oferta de tipologias, dimensões e programas de moradia variados, contribuindo para a sustentabilidade social. Assim como a diversidade de usuários ajuda a sustentar atividades de lazer, comerciais e de serviços.
III) Identidade
Identidade para conjuntos que abrangem diversidade de usuários pode se expressar, entre outros, por gradiente de privacidade no layout geral do conjunto. Espaços externos positivos podem definir sistemas permeáveis de circulação e serem diferenciados por formato que incentive permanência ou contemplação, ou por vezes configurem pátios internos e conjunto de entradas similares, porém diferenciadas por transições no espaço físico da entrada. A vegetação também pode conformar e distinguir espaços. Eventuais contrastes maiores no perfil geral da edificação podem enfatizar a entrada do conjunto e de espaços coletivos.
O Senso de Habitabilidade
I) Harmonia Espacial, Conforto Ambiental e Privacidade
Considerando as diversas possibilidades de agregação entre as unidades habitacionais, a opção por alas de forma alongada e estreita, horizontal ou verticalmente, possibilita a obtenção de no mínimo dupla orientação solar e facilita o gradiente interno de privacidade. Porém necessita se aliar a outras estratégias para obter a privacidade visual entre as unidades e entre estas e a rua. Por exemplo, em situações como unidades que se abrem uma para a outra, a criação de mini-pátios reservados para parte das aberturas, o uso de janelas altas, cobogós, brises, vegetação ou desníveis podem ajudar.
II) Sentido de Lar
Criar unidades que ofereçam adequação ao uso e gradiente de intimidade através de diferenciação física. Procurar dispor as áreas de encontro em locais mais centrais, visíveis e ladeadas por fluxos de passagem. Os limites da habitação serem permeáveis criando zonas de transição através de diferenciações no percurso e criação de ambientes de entrada. As aberturas (localização, dimensão, tipo), além de interferirem na adequação luminosa às diferentes atividades internas, interferem também na possibilidade de controle do gradiente de luminosidade e privacidade pelos usuários.
III) Opções e Flexibilidade
Para que a unidade habitacional possa crescer ou ser alterada sem perda de coerência faz-se necessária definição clara de meio organizacional que reconheça partes primárias e secundárias, pressupondo que certas propriedades espaciais e qualidades requeridas, que caracterizam a forma em questão, permaneçam constantes. A multifuncionalidade dos espaços pode ser proporcionada através de dimensões generosas para os ambientes, acesso visual e iluminação abundante, e também de elementos construtivos de fácil manuseio, adaptação e reparo pelos construtores (e futuros usuários), numa linha direcionada à autoconstrução gradual.